(A partir desse capítulo, serão anexados arquivos de som (MP3). Não deixe de ligar seu dispositivo de som para ouvir o que revelam as músicas que acompanham cada capítulo)
ÁUDIO:
O cruzeiro no céu dava aos cavaleiros navegantes uma esperança. Lembravam com alento de algo que, de repente, parecia muito significativo: “IN HOC SIGNO VINCES”, as letras de fogo do sonho do Imperador Constantino. Com este sinal vencereis…
O mar, por vezes encapelado, não os impunha mais medo. Náufragos de si mesmos, alimentavam uma forte esperança: Ao navegarem rumo ao Sul, nunca correriam risco de chegarem à beirada do mundo. Com o sinal das estrelas livrar-se-iam de serem projetados com seu barco nos limites do orbe, no abismo das regiões inferiores.
Naquela noite tiveram um sonho coletivo e, pela manhã, o narraram uns aos outros percebendo que a coincidência era uma revelação. Inspirados no dom emanado da Arca de IMAGO ET PICTURA, desenharam a imagem do seu sonho:
Duas serpentes envolvidas em uma espada, que possuía em sua ponta, um livro aberto e uma pomba com asas abertas. As serpentes ensaiavam a formação de um número oito e encontravam-se face a face, porém não se armavam para combate. Entre as serpentes, na altura de seus olhos encontravam-se dois pássaros pequenos e frágeis. Os pássaros sustentavam um cartaz escrito na antiga língua anglo-saxônica que dizia : “AME e VIVA”. As serpentes, por sua vez, diziam em latim uma à outra: “EXCESSOS EM NADA” e “CONHECE-TE A TI MESMO”.

Compreenderam os cavaleiros que era chegado um novo tempo. Deviam preparar-se para uma filosofia nova que não era mais aquela que lhes servia de guia na Europa. O novo tempo era baseado no MEIO e não na supremacia, na igualdade e não no poder, na paz e não na dominação, na vida e não na morte.
Essa nova forma de pensar, revelada pelo sonho coletivo e inspirado nos dons da Sagrada Arca, mudou a fisionomia e o alento dos cavaleiros. Estavam indo para um novo lugar. Deixavam para trás um mundo de conquistas e competição. As estrelas do céu os guiavam para o Novo Mundo.
Apesar da calmaria da madrugada, todos acordaram muito cedo naquele dia. O calendário marcava o dia 15 de Agosto de 1315. O sol espalhou generoso seus primeiros raios da manhã e os navegantes mal podiam acreditar no que viam: Diante deles se descortinava uma magnífica praia de areias brancas enfeitada com árvores muito verdes. A foz de um rio caudaloso despejava suas águas no oceano. Um porto seguro para aterrarem e buscarem conhecer o que lhes reservava o destino.
O barco estava ancorado às margens do rio. A Arca e os tesouros foram desembarcados. Os cavaleiros caminharam alguns metros no terreno plano, no rumo sul, em direção a um morro arredondado que dominava a paisagem. Há cerca de 300 metros da margem do rio, pararam para descansar e colocaram no solo a Arca.
Nesse momento, um brilho intenso saiu da Sagrada Arca projetando uma imagem holográfica impressionante: Uma grande igreja com torres agulhadas que terminavam em cruzes. Ao centro, um vitral circular com 12 partes no centro, derivando para fora em um círculo de 60 divisões menores que, por sua vez projetava um círculo ampliado de 360 partes e outro externo de 3600 partes. Acima do grande círculo, Dois triângulos nas proporções definidas pelo triângulo sacro.

Os cavaleiros ajoelharam-se diante da imagem que fluía da Arca e estavam absortos em seus pensamentos, imaginando que talvez se lhes estava sendo passada a missão de construir esse templo nessas novas terras desconhecidas. Totalmente extasiados não perceberam que estavam cercados por um estranho grupo.
Eram muitos. Mais de cem. Homens, mulheres e crianças. Todos nus e ornados com penas.
Os templários ficaram horrorizados. Os tabus europeus não admitiam o nu em público. A ideia era de uma chocante e pecaminosa promiscuidade. Uma visão horrenda do inferno onde imperam as mais vis e torpes práticas.
Selvagens. Bestas em forma humana. Demônios nus ostentando sua anatomia de forma descarada. Com certeza teriam chegado ao inferno, pois a ninguém era admitido tamanho desrespeito com o corpo, templo do Santo Espírito de Deus.
UBI SUMMUS? (Onde estamos?) perguntaram em latim os cavaleiros indignados ao grupo de selvagens. Ninguém, do grupo de índios respondeu. Apenas sorriram levando os templários a firme certeza de que haviam chegado ao inferno.
E, como esses demônios nus são cruéis…, dançavam em um grande círculo cantando em um idioma totalmente desconhecido. As crianças nuas trouxeram flores, as mulheres trouxeram frutos e os homens trouxeram pássaros coloridos de bico redondo. – Que horror. Estão nos confundindo com demônios de sua espécie. – Rosnaram uns para os outros enquanto os selvagens depositavam as oferendas a seus pés.
O que são essas oferendas? Não compramos nada. Não lhes fizemos pagamento algum. Porque as trazem? Estranhos hábitos os desses demônios nus… Entregam bens sem pagamento… Sorriem para estranhos. Não sabem eles que temos poder de vida e morte sobre eles? Ignoram que podemos sacar de nossas espadas e, em nome de nosso Deus, único e verdadeiro, cortar suas cabeças por apresentarem-se despidos diante da Arca Sagrada?
… o que aconteceu? por que os valores do novo mundo chocam os cavaleiros? Que relação têm os novos personagens com o sonho de revelação coletiva que os templários tiveram ainda no mar?
Por que os cavaleiros resolvem voltar para o barco e subir rio acima…
Não percam os próximos capítulos.