Capítulo III

Eu vi a Véia Greta saindo pela porta da casinha. Ela tinha os cabelos espetados e um chapéu grande envolto em um lenço que era amarrado embaixo do queixo. Um vestido apertado e longo. Um casaco xadrez com as mangas remendadas nos cotovelos por outro tecido.A Véia saiu correndo em minha direção com uma acha de lenha enorme numa mão e com um machado na outra.

Eu não sei como isso acontecia nos sonhos, mas sempre acontecia: Eu tentei correr, mas as pernas não obedeciam. (A Véia chegando…). Tentei gritar, mas a voz não saía. (A Véia já estava ali…). Tentei virar a cabeça para olhar para o outro lado, mas o pescoço não tinha mais movimento. (Já sentia o cheiro da Véia…).
Ela levantou o machado, e passou tão perto que senti o vento do machado assoprando no meu rosto.

Aí então eu pude gritar. E gritei muito alto:
…..aaaahhhh   Véééiiiiaaaaa Greeeeeeta!….

Vi a porta do quarto se abrindo e uma réstia da luz de uma vela iluminado o rosto da mãe que vinha entrando preocupada.
– Quem tá gritando?
– Mãããeeee. Olha a Véééiiiia Greeeeta…

Custei a entender que era um sonho. A mãe dizia pra eu colocar uma blusa. Outra blusa por cima, Mais outra. Agora o casaco…
– Ligeiro tá na hora de ir para Florianópolis.
– Mas, mãe, florianópolis é a casa da Véia Greta…
– Bobagem de sonho…

Na frente da nossa casa um barulho de motor roncava na noite. Acho que era por volta de onze horas da noite e o ônibus já tinha chegado. O pai cutucava todo mundo. Nervoso dizia que todos se apressassem, e empurrava a Salete e a Tereza que ainda não estavam prontas. O Jonas já estava dentro do ônibus passando a mão para limpar o vidro embaçado da janela.

– Anda, Elvira. Vão ficar nessa moleza é? Parecem “uns bicho-preguiça”…

A mãe pegava o revirado, as cobertas, as malas, os casacos, os pacotes, as bolsas, o dinheiro, os documentos… por fim me enrolou um cobertor e saímos porta afora…

A noite tinha um céu admirável. As estrelas eram tão grandes que pareciam ao alcance da mão. Aproveitei que estava “bem alto”, no colo da mãe e estendi o braço pra tentar apanhar uma estrela para brincar. Quase consegui pegar a minha estrela. Só não deu, porque a mãe puxou meu braço e prendeu minha mão embaixo do cobertor. – Não bota a mão pra fora. Vai ficar encarangado….