Um Poema Curto

A coisa era levada a sério.
No Grupo Escolar Araújo Figueiredo, eram realizadas muitas homenagens à bandeira. Os alunos formavam alas no pátio central. A bandeira era hasteada com solenidade. Todos cantavam o Hino à Bandeira, e, com a mão no peito cantavam em uníssono sincronizado e afinado, o Hino Nacional.

As professoras incentivavam os pequenos a declamarem poemas patrióticos. E todos faziam longos treinos. Decoravam o texto e ensaiavam os gestos que iam do peito ao alto, sempre alternando entre o braço direito e o esquerdo. Não menos interessante era o tom da declamação, que se fazia elevando a voz e harmonizando um acorde bem cantado.

As professoras ficavam extremamente felizes com o desempenho de seus pupilos declamadores. Elas ficavam ao lado do seu aluno, dando-lhe apoio e moral. Os aplausos eram consagradores. Todos eram aplaudidos, independentemente do nível de sua performance.

Certa ocasião, a professora Maris tratou de incentivar um aluno muito tímido que se recusava a se apresentar em público:

– Juvenal, você vai declamar o poema “Sete de Setembro” de Olavo Bilac. É um poema curtinho e bonito.
– Mas, Dona Maris, eu não sei declamar…
– Fique tranquilo. Eu vou estar ao teu lado na hora e vou te ajudar.

Assim, o Juvenal acabou aceitando a incumbência patriótica, ensaiou muito e até se saiu bem nos ensaios apesar de sua voz fanhosa e estridente. Dona Maris o aconselhava:

– Não olhe para os coleginhas. Erga a cabeça e olhe só para a bandeira hasteada no mastro. A bandeira estará te protegendo e te dando força.

Chegou o dia da homenagem à bandeira. Todos perfilados e atentos a cada apresentação dos colegas. O Juvenal parecia tranquilo e aplaudia a todos com entusiasmo.

– “E agora, a apresentação do aluno Juvenal, que declamará o poema de Olavo Bilac, Sete de Setembro…” – Anunciou no alto-falante a professora encarregada do cerimonial.
Juvenal lançou um olhar aflito para a professora Maris e viu que ela lhe sorria com confiança. O menino caminhou até a base do mastro onde tremulava o sagrado pavilhão nacional.
Respirou fundo olhou para a bandeira e lascou:

– Fete de Fetembo… – Parou, olhou para a professora, que continuava sorrindo passando-lhe confiança. Então ele recomeçou:
– Fete de Fetembo… – Parou de novo. Esqueceu completamente o resto do poema. Mas armou-se de coragem e recomeçou:
– Fete de Fetembo… – Diante de nova parada, a professora Maris considerou cumprida a missão, em razão das reconhecidas dificuldades do pobre Juvenal. Então a generosa mestra abriu aquele seu largo sorriso e dirigiu-se toda a escola batendo palmas.
O Juvenal foi ovacionado intensamente pelos colegas, professores e servidores da a escola.

O respeito aos outros é fundamental para quem quer ser respeitado.